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“Teremos passagem barata sempre", diz dono da Azul

Apenas um em cada 200 empresários com planos de abrir uma companhia aérea sobrevive ao mercado de aviação por mais de cinco anos. Nascido em São Paulo e criado nos Estados Unidos desde os seis anos, o empresário americano David Neeleman contraria as estatísticas. Sua atual companhia aérea, a Azul, é a quarta que ele monta em 28 anos de mercado. Das outras três, uma foi vendida para a Southwest, a maior companhia aérea de baixo custo dos Estados Unidos, e as outras continuam em operação. “Com a Azul não será diferente”, disse o empresário que, apesar de viver há dois anos na ponte-aérea São Paulo-New Canaan, nos Estados Unidos, ainda fala com muito sotaque. “A empresa passa dos cinco anos e vai voar durante muitos anos”.
Com dois anos recém-completados, a Azul já transportou mais de seis milhões de passageiros, o maior crescimento de uma companhia aérea no Brasil, e vai fechar o ano com 26 aeronaves. Até o final de 2011 a frota terá 40 aviões. Para continuar a crescer nos próximos anos, a empresa aposta na criação de voos regionais, que partem de cidades com alto poder aquisitivo e que hoje não são atendidas pela TAM e a Gol. Neeleman recebeu a reportagem do iG na Azulville, como é chamada a sede da empresa instalada em Alphaville, na grande São Paulo, e falou sobre o projeto de regionalização, do segredo para ser bem sucedido num mercado tão competitivo e da segmentação dos preços das passagens. “O passageiro que se planeja vai sempre viajar pagando tarifa de ônibus”, afirmou. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
David Neeleman durante entrevista na sede da Azul:
43 aviões e 50 destinos até o final de 2011


iG: A Azul vai completar dois anos com seis milhões de passageiros transportados. Qual é o maior ganho que a empresa trouxe para o mercado brasileiro?
David Neeleman: O maior é a segmentação das tarifas. Quando vim conhecer o mercado há três anos fiquei impressionado com a falta de voos entre cidades grandes e médias. As tarifas eram caras e a taxa de ocupação era muito baixa. Não tinha política para estimular o mercado. Quando começamos a primeira rota, de Salvador para Campinas, perguntei qual era o valor da tarifa de ônibus. Lembro até hoje: R$ 229. Falei que íamos cobrar R$ 199 e começamos a voar. Naquela época só 34 pessoas por dia voavam nessa rota. Hoje são 600. Depois que começamos a segmentar, a TAM e a Gol vieram atrás. Hoje, o crescimento do mercado é de 25%. A economia está crescendo, mas não nesse ritmo. O mercado cresce porque tem tarifas para os viajantes que se planejam, que compram com antecedência.
iG: Que perspectiva a Azul tem para os preços das passagens aéreas: estabilidade, queda ou aumento?
Neeleman: Sempre que dou palestra me perguntam se vamos ser como a Gol, que começou com preços baixos e depois aumentou as tarifas. A minha resposta é: de jeito nenhum. Sempre vamos ter tarifas baixas para as pessoas que não podem pagar caro. Se comprar com 21 dias de antecedência, vai sempre poder comprar a tarifa com valor de passagem de ônibus. Garanto isso para sempre.
iG: O balanço da Anac aponta para uma perda de R$ 60 por passageiro embarcado na Azul no ano passado.
Neeleman: Não é verdade. Mas quando uma empresa começa, começa com os custos mais altos do que em qualquer outro período da sua história. Conforme crescemos, diminuímos esses custos. Neste mês, vamos chegar ao ponto em que os custos do nosso assento serão os mais baixos. Se tivéssemos esse custo desde o começo, teríamos lucrado todos os meses. Não dá para lucrar com cinco aviões.
iG: A Azul compra mercado?
Neeleman: Quando você começa, tem de fazer promoção. Começamos em São José dos Campos com uma tarifa de R$ 39. Todo mundo falava disso na cidade. As pessoas gostaram, não vão mais para Guarulhos. E agora estão voltando para pagar R$ 169. É o mesmo preço de Guarulhos. A diferença é que não precisa viajar 45 minutos, pagar estacionamento. Quando você está crescendo precisa ensinar as pessoas a viajar.
iG: Alguns especialistas questionam a viabilidade de uma companhia aérea que não opera em Congonhas e Guarulhos. O que o senhor acha disso?
Neeleman: Os analistas não sabem o que estão dizendo. Se você mora em determinadas regiões de São Paulo é mais rápido ir para Viracopos do que para Guarulhos. Você vai para Campinas em uma hora. Vou para Guarulhos toda semana e tenho de sair quatro horas antes do voo para não perdê-lo. As pessoas que falam isso falam besteira.
iG: Um executivo da Boeing disse que apenas um em cada 200 empresários com planos de abrir uma companhia aérea sobrevive no mercado por mais de cinco anos.
Neeleman: A Azul é a minha quarta companhia aérea e estou 100%. A primeira foi vendida para a Southwest. A outra é a WestJet, que ainda voa no Canadá. Depois veio a JetBlue e agora a Azul. Sei como fazer isso. A Azul vai passar dos cinco anos, vai ser uma bela empresa e vai voar durante muitos anos.
iG: Mas é um negócio difícil, né?
Neeleman: É complexo. Não é difícil tratar pessoas como seres humanos, voar entre cidades que não têm serviço. Para quem não fez isso antes, é difícil. Sei como fazer. Ouvi de meus concorrentes que a Azul só teria espaço para 20 aeronaves no Brasil, que a empresa pararia de crescer depois disso. Já tenho 26 e vou ter 38 no ano que vem. E vou continuar a crescer.
iG: Qual a meta da empresa em participação de mercado?
Neeleman: Viajamos para 28 destinos e temos 35 rotas. Não importa nosso market share no Brasil. Tem muitos lugares que não temos voos e essa comparação não tem sentido. O que importa para mim é o market share onde temos voos. Nas rotas em que temos voos diretos, temos 80% do mercado. Na maioria dos outros temos a maior frequência. Nos próximos cinco anos, o Brasil vai precisar de mais 300 aeronaves para transportar pessoas que deveriam estar viajando de avião. Só quero 100 desses aviões.
iG: O que faz a Azul diferente das outras?
Neeleman: A facilidade de fazer reservas.
iG: Mas qual é a diferença para a Gol e a TAM, onde o passageiro também compra por meio da internet?
Neeleman: Você chega ao aeroporto e temos grande foco nas filas. Tenho ódio de filas. Temos 14 totens de autoatendimento, e os concorrentes têm quatro ou seis. E quando entra no avião, é bem diferente. Tem mais espaço, não tem assento no meio, a cadeira é de couro. Nossos funcionários são muito simpáticos. A partir de janeiro teremos televisão em todos os assentos, que vai ter 36 canais e será transmitida ao vivo a partir de março. Os voos saem na hora. Você sente que é realmente cliente.
iG: Quando o senhor veio para o Brasil imaginou que voaria rotas regionais?
Neeleman: Não. Mudei porque vi uma oportunidade. Quando a TAM tirou os aviões Fokker 100 ela acabou com serviço para mais de 20 cidades. Saíram de Marília, que foi a cidade onde a empresa nasceu.
iG: Por que a Azul vai comprar aviões da francesa ATR e não da Embraer para os voos regionais?
Neeleman: A Embraer não tem avião para esse tipo de serviço. O Fred (Frederico Curado, presidente da fabricante de aviões) me ligou e perguntou se eu não queria o modelo 145. Falei que ele poderia me dar esse avião de graça, mesmo assim não conseguiria voar com ele. O 145 tem lugar para 50 pessoas e o ATR, para 70. Apesar de menos lugares, o 145 queima 450 galões de combustível por hora. O ATR consome quase metade disso.
iGFoi isso que a Azul levou em consideração na hora de comprar?
Neeleman: Sim. Com 70 pessoas posso cobrar as mesmas tarifas que cobro nos jatos. Esses aviões não serão usados em voos de mais de uma hora. E a diferença do jato para o turboélice na primeira hora de viagem é de apenas 10 minutos. Se ela é feita em uma hora num jato, leva uma hora e dez minutos num turboélice. Mas queimo menos combustível, que representa quase 50% dos nossos custos.
iG: E qual foi a resposta do Fred?
Neeleman: Ele entendeu, é um cara inteligente. Com 40 ATRs, posso comprar mais 25, 30 jatos da Embraer. Vou trazer gente para fazer conexão, vamos desenvolver o mercado.
iGA TAM decidiu substituir os ATRs comprados da Pantanal por jatos porque o passageiro brasileiro não gosta de turboélice.
Neeleman: Todo mundo prefere o jato, claro. Mas numa cidade que não tem avião, o passageiro prefere ônibus ou os ATRs?
iG:Os aeroportos dessas cidades estão preparados para receber voos comerciais?
Neeleman: Às vezes os aeroportos municipais estão mais preparados do que os da Infraero. Eles têm mais agilidade para fazer as coisas. Antes de visitar uma cidade dei uma olhada no Google Earth para ver o aeroporto e achei o pátio pequeno. Fiquei preocupado, achei que não daria para pernoitar lá. Quando cheguei, o aeroporto tinha ganhado mais área de pátio. Em três meses mudou. A Infraero demorou um ano e meio para pintar o pátio de um aeroporto.
iGO setor aéreo cresce 25% ao ano no Brasil, mas não há expansão da infraestrutura aeroportuária. Isso atrapalha os planos da Azul?
Neeleman: Em alguns aeroportos, sim. Nos Estados Unidos, a JetBlue cresceu bastante e alguns aeroportos não tinham espaço. Em Long Beach construímos um terminal temporário em três meses, que operava 28 voos por dia. Não pode demorar cinco anos para construir um terminal. A falta de infraestrutura não pode atrapalhar o crescimento de uma cidade.
iG: A Azul está disposta a investir em infraestrutura aeroportuária?
Neeleman: Podemos investir se a lei permitir. Gosto de construir meus próprios terminais.
iG: O setor aéreo enfrenta um apagão de mão de obra. O senhor se preocupa com essa situação?
Neeleman: Não. Vamos anunciar um projeto para treinar pilotos. Ele não vai criar os hábitos ruins como quando é formado no exército nos Estados Unidos e no Brasil. Vou ter um piloto melhor do que aquele cujo pai pagava o curso. Nos próximos três anos vamos formar 300 pilotos. Vamos emprestar dinheiro para eles, dar condições e depois descontar do salário deles.
Via:



Via: Marina Gazzoni e Gustavo Poloni, iG 

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