Uma das gigantes da construção no país, a Andrade Gutierrez pretende fazer um novo aeroporto nas proximidades de Brasília, voltado essencialmente para a aviação executiva e com investimento inicial de R$ 120 milhões.
O projeto da Andrade Gutierrez, em parceria com investidores locais, fica na região de Sobradinho (DF) e foi apresentado há algumas semanas para o governo. Prevê uma pista com 1,8 mil metros de extensão. A área total do empreendimento chega a 138 hectares, já foi inteiramente adquirida e não exige desapropriações. Além disso, requer trabalhos mínimos de terraplenagem.
O futuro aeroporto fica a menos de 20 quilômetros do Plano Piloto. Nos horários em que não há congestionamento das vias que dão acesso à cidade-satélite, o percurso até a Esplanada dos Ministérios leva entre 20 e 25 minutos. Estima-se que o tempo de construção pode tomar de 18 a 20 meses. Se houver agilidade nos trâmites burocráticos, os jatinhos vão poder usar o novo aeroporto já na Copa do Mundo de 2014. Sete partidas serão disputadas em Brasília, incluindo uma da seleção brasileira, além do jogo que definirá o terceiro lugar.
Pista com 1.800 metros ficará a menos de 20 km do Plano Piloto e prevê novos serviços, em área total de 138 hectares
O projeto contempla uma série de "serviços acessórios" - não só os diretamente atrelados à atividade aeroportuária, como oficinas de manutenção para aviões e abastecimento de combustível, mas também para os futuros usuários do aeroporto. Está prevista a instalação de restaurante, espaço para eventos e um pequeno hotel (voltado mais à tripulação do que para os passageiros).
Para avançar no projeto, os empreendedores aguardam com ansiedade o decreto presidencial que autorizará a exploração comercial de aeroportos privados para a aviação geral. A medida faz parte do pacote de anúncios na área de infraestrutura que o governo deve fazer em setembro.
Atualmente, o Brasil dispõe de dezenas de aeroportos privados de pequeno porte, mas eles estão impedidos de atuar comercialmente. Os donos não podem cobrar taxas de pouso e decolagem nem instalar lojas comerciais em suas dependências. Essa possibilidade é limitada a aeroportos públicos - como o Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ), ambos geridos pela Infraero.
Para o governo, a tendência mundial é que a aviação geral (que engloba de modernos jatos executivos a pequenos aviões particulares usados como lazer) vá migrando gradualmente para aeroportos próprios, liberando os grandes terminais para voos comerciais. Chicago, por exemplo, tem dois aeroportos comerciais e nada menos do que 13 específicos para a aviação geral.
Projetos importantes de aeroportos privados para a aviação executiva, que também aguardam o decreto presidencial, já haviam aparecido nos últimos meses. Todos, no entanto, estão na região metropolitana de São Paulo. O grupo imobiliário JHSF pretende construir uma unidade em São Roque, a 60 quilômetros da capital. Os empresários Fernando Botelho Filho e André Skaf, por sua vez, planejam construir e operar um aeroporto particular - o Aeródromo Rodoanel - na região do anel rodoviário.
O empreendimento da Andrade Gutierrez no Distrito Federal é o primeiro grande projeto para a aviação geral que surge, no contexto das oportunidades abertas com o decreto em negociação, fora de São Paulo. A ideia do novo aeroporto começou a amadurecer a partir da constatação de que 13% do movimento do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek - o equivalente a quase 25 mil pousos e decolagens por ano - são da aviação executiva.
Mesmo com a expansão das operações prevista pela concessionária Inframérica, que acaba de assumir a administração do JK, há uma perspectiva de esgotamento do aeroporto para jatinhos particulares. Há duas semanas, quando a presidente Dilma Rousseff anunciou o pacote de concessões de rodovias e ferrovias, governadores e empresários chegaram atrasados ao evento no Palácio do Planalto por causa do congestionamento aéreo em Brasília. Foi o que ocorreu, por exemplo, com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e com o governador de Minas, Antonio Anastasia.
Dificilmente, pelas boas instalações e pela localização privilegiada, autoridades e grandes empresários deixarão de preferir o JK como aeroporto para pousar no centro do poder. Com administração privada, o JK deverá receber investimentos de R$ 1,1 bilhão até 2016. O novo aeroporto, no entanto, pode servir como alternativa. Além disso, prevê-se que terá forte demanda de proprietários de pequenas aeronaves. Hoje, esses "teco-tecos" usam principalmente o Aeroclube de Brasília, que, apesar do nome, fica em Luziânia (GO), a cerca de 60 quilômetros do Plano Piloto. Jatos executivos chegam a ser desviados algumas vezes, quando há restrições, para Goiânia.
Após a edição do decreto presidencial, a Andrade Gutierrez precisará ainda obter licenciamento ambiental para o projeto e um aval do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), atestando que não há incompatibilidade com o tráfego do JK. Procurada pelo Valor, a empresa não quis se pronunciar.
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