O crescimento expressivo do setor da aviação regional no Brasil, que neste ano pode atingir 20%, é um elemento chave na estratégia comercial do fabricante de turboélices franco-italiano ATR. Ontem, nos arredores de Toulouse, no sudoeste da França, onde fica a sede e a linha de montagem da ATR, o Brasil esteve em destaque na cerimônia de entrega do 900° avião produzido pela empresa. Ele foi entregue à brasileira Trip, que, com 30 aeronaves, é a segunda maior frota mundial da ATR.
O italiano Filippo Bagnato, CEO da ATR, que afirma ser a líder mundial de turboélices com 50 a 74 lugares, sorri ao falar sobre o Brasil. Em julho, a ATR já havia anunciado vendas de 40 aviões 72-600 de última geração, sendo 20 ofertas firmes e 20 opções de compra, para a brasileira Azul. Negócio estimado em US$ 850 milhões.
"O Brasil tem um forte crescimento econômico e o tráfego de passageiros aumenta em proporções ainda maiores. É impressionante a performance de uma empresa como a Trip, que há cinco anos era uma pequena companhia que utilizava aviões de segunda mão. Isso atesta a expansão da aviação regional no país", disse Bagnato, ao Valor.
Neste ano, a Trip deverá transportar 3,8 milhões de passageiros, o que representa quase o dobro na comparação com 2009, disse o presidente da Trip, José Mário Caprioli. A Trip está em discussões com a ATR para comprar 11 novos turboélices. A empresa brasileira também prevê comprar mais cinco jatos e totalizar, no próximo ano, uma frota de 57 aviões.
Em razão do aumento das encomendas de companhias brasileiras, a ATR estuda implantar no Brasil no próximo ano um centro de formação de pilotos. "Começamos a ter uma dimensão em termos de frota no Brasil que justifica o aumento da capacidade técnica no país", diz Bagnato, que assumiu o comando da ATR em junho. A ideia é instalar em São Paulo ou Campinas um simulador de voo de aviões da companhia.
A América Latina é um mercado importante para a ATR, uma joint-venture com partes iguais entre a italiana Alenia Aeronautica e o consórcio europeu EADS, holding controladora da Airbus. Mas ainda está longe de registrar a performance do Sudeste Asiático e da região do Pacífico, que representam 50% das vendas da ATR desde a retomada do mercado de turboélices, em 2005. Indonésia, Índia e Malásia são os maiores clientes.
Para Bagnato, o ano de 2010 marca a retomada do setor da aviação, mas ele prefere se manter prudente. Com 51 encomendas de turboélices até agosto, a ATR prevê fechar o ano com mais de 60 pedidos, ou "os mesmos níveis de vendas antes da crise". Em 2006, foram feitas 63 encomendas. O de 2007 foi recorde, com 113 vendas. Mas em 2008 e 2009, o número despencou para 40, em cada ano.
Os dados da IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo) indicam neste ano um aumento de 1% a 2% do transporte de passageiros e de 4% do frete, diz Bagnato. "Os números estão um pouco melhores do que os dados antes da crise". Mas em razão da expansão da aviação regional em grandes países emergentes e devido ao fato dos turboélices representarem hoje 40% do mercado de aviação regional (no início dos anos 2000 era apenas 15%, o restante era de jatos), Bagnato se diz "confiante no futuro".
Se depender da performance de algumas companhias regionais, a meta da ATR poderá ser atingida rapidamente. A Trip, que deve registrar 70% de aumento no faturamento em 2010, estimado em R$ 760 milhões, tem como meta agora fortalecer os destinos já existentes (que são 80), aumentando a frequência dos voos. "Em 2011, baseado no plano de aumento de frota, nossa previsão é de faturar R$ 1,3 bilhão", diz Caprioli.
Devido às excelentes previsões da Trip, o evento de entrega do 900° avião da empresa franco-italiana, que contou ainda com a presença de Renan Chieppe, presidente do conselho administrativo da Trip, e de Pierluigi Baldacchini, diretor comercial da ATR, ocorreu em clima de festa em Toulouse.
Fonte: Administradores