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O designer Aícro e seu sonho de ser piloto

Como no lendário sonho de Ícaro, mas obviamente contando com um destino diferente da mitologia grega – em que o personagem voou alto com asas de cera, que se derreteram no calor do sol – todos nós temos nossos sonhos. Se perguntarmos às pessoas sobre o seu sonho, teremos as mais diversas respostas. Viajar para Paris, casar, saltar de paraquedas, enfim. Por mais absurdo que possa parecer, sonho não precisa ter lógica. Simplesmente é sonho. 



Diante dessa diversidade, acho que posso afirmar seguramente que a maioria dos meninos alguma vez já teve a aviação relacionada entre esses sonhos de infância. A aviação tem algo de instigante, desafiador. A manifestação desse fascínio se materializava principalmente através dos lápis e canetas. A facilidade que eu tinha com as formas desde muito pequeno me permitia reproduzir as aeronaves em pilhas de papéis que se espalhavam pela casa, juntamente com os modelos de plástico da Revell. 

Com esse talento que tinha com os desenhos, fui buscando me aperfeiçoar no segmento até a formação acadêmica em design, onde tive contato com novas técnicas de desenho e pintura. Com isso, nada mais justo que juntar essas duas paixões ou seja, se não poderia voar os aviões, ao menos poderia representá-los graficamente. 

Apesar de tantos obstáculos, procurava sempre manter os aviões por perto. Passei a fazer parte da extinta Abrarta, uma associação de artistas de todo Brasil que cultivavam o mesmo hobby. Realizamos inúmeras exposições por aeroportos, galerias, chegando inclusive a lançar um livro sobre aviation-art, talvez uma das únicas obras nacionais do segmento. Também tive a oportunidade de ilustrar um livro infantil da escritora Lucia Gomes, para o Museu da TAM, de São Carlos. 

Decidi que deveria fazer algo e naquele momento deixei as preocupações financeiras de lado e passei a focar nessa possibilidade. Me dei conta de que, por mais caro que poderia ser, fazer um curso de pilotagem poderia me trazer de volta aquele entusiasmo da infância. Procurei o Aeroclube para obter informações e dei início às atividades. O primeiro passo para ser piloto é ser aprovado numa prova da Anac envolvendo os diversos assuntos relacionados ao voo. Você pode estudar em casa mas um curso teórico no Aeroclube é muito recomendado. É necessário também ser aprovado numa série de exame médicos. Uma vez aprovado nesses exames, o aluno passa a ter as aulas práticas de até ser avaliado por um perito da Anac num voo conhecido como cheque. São necessárias no mínimo quarenta horas de voo para que o aluno possa realizar seu voo de cheque. 

Após ser aprovado na Banca da Anac e ter meus exames médicos realizados, passei a ter aulas teóricas com o professor Nícolas, um jovem com metade da minha idade na época. Hoje piloto profissional, Nícolas foi um grande incentivador em minha fase de estudos. Por razões diversas, iniciei meus voos na cidade de Catanduva. Lá tive contato com uma aeronave clássica entre os pilotos, o famoso Paulistinha. O primeiro voo naquela manhã fria foi de uma emoção única. Coube a outro jovem piloto, chamado Thaigor ser instrutor de meu primeiro naquele dia. A sensação desse voo é indescritível. Fiquei impossibilitado e usar os pedais devido uma tremedeira que insistia em permanecer nas minhas pernas com tamanha emoção. 

Essa dificuldade persistiu por alguns voos seguintes mas depois vamos nos acostumando. Os trabalhos foram prosseguindo em Catanduva onde tive grande receptividade. Pintei um quadro em homenagem ao Aeroclube de Catanduva onde representei o PP-HRL, o Paulistinha amarelo que tive meu primeiro e inesquecível voo. 

Ao me transferir para Rio Preto, minhas instruções passaram a ser feitas em outra aeronave ilustre, responsável pela formação de grandes pilotos de nossa cidade, o Cesnna 172 de matrícula PT-COC, ou simplesmente Charlie Oscar Charlie. O comandante Fagner foi responsável de me fornecer as primeiras instruções na nova aeronave e mais uma vez revivi a sensação de voar como se fosse a primeira vez. Dessa vez, os níveis de exigência passavam a ser bem maiores. Eu estava voando num aeroporto mais movimentado onde é extremamente importante a coordenação com as outras aeronaves e às informações de rádio.


‘Mantenha as asas niveladas’

Todos podem imaginar o voo como sendo algo simples onde se pode curtir o lindo visual do alto mas aos poucos vamos aprendendo que não é bem assim. É necessário estar atento a inúmeras informações e protocolos de voo. As dificuldades eram constantes e a emoção do voo dava lugar à concentração e à atenção em realizar as manobras orientadas pelos exigentes instrutores. Frases como “mantenha asas niveladas”, “busque o eixo da pista”, “compense essa aeronave direito” e “mantenha velocidade” ficavam na memória por dias. 

Aqui seria importante destacar o trabalho desses profissionais nesse período. Posso dizer que tenho sorte por ter convivido com jovens instrutores experientes e com grande talento em passar seus conhecimento, especialmente sobre um assunto tão específico e cheio de detalhes. Passei a compreender porque tantos jovens alunos decidem abandonar a carreira de aviador por simplesmente não conseguirem assimilar tanta informação. Confesso que por alguns instantes esse sentimento passava por mim. Sempre fui muito exigente comigo mesmo e ficava decepcionado quando não conseguia realizar alguma manobra corretamente. 

Era decepcionante ver que quando o instrutor assumia o comando, a mesma manobra era realizada com incrível destreza. Aquilo era frustrante e podemos ser levados inicialmente a acreditar que não somos capazes dessas proezas. Mas as dificuldades fazem parte de qualquer atividade que você se comprometa a realizar bem e eu não poderia ceder diante daquilo. Me lembrava o quanto eu tinha lutado pra estar ali, desde a infância. Tudo aquilo que eu tinha pedido estava se realizando naqueles momentos e não poderia me entregar assim com qualquer dificuldade que vai surgindo. 

Fui em frente, com determinação, realizando as missões, buscando tudo com muito esforço. Sempre tive minhas dúvidas muito bem esclarecidas e aos poucos fui dominando a aeronave, evoluindo gradativamente na realização das tarefas. Certa vez durante um pouso recebi os ‘parabéns’ do meu instrutor. Ele me disse que aquele pouso tinha sido feito totalmente por mim, sem o auxílio dele. Aquilo fez uma grande diferença, reafirmando nossas convicções em buscar fazer tudo cada vez melhor.


Voo de cheque, um grande momento

Após cumprir o cronograma, chega enfim o dia de realizar o voo de cheque. Não é necessário dizer que por mais que você esteja familiarizado com os procedimentos, esse momento chega com uma boa dose de ansiedade. Mas para minha surpresa, o voo foi muito tranquilo. O checador, ciente da tensão vivida pelos alunos, é uma pessoa muito experiente e preparada para essa realidade, buscando manter o clima tranquilo e avaliando cada movimento. 

Após o voo de cheque, recebi os cumprimentos de meus instrutores. Com esse voo, me tornei piloto privado, habilitado a realizar voos sob condições visuais mas não posso atuar profissionalmente. Essa etapa representa apenas o início da carreira de aviador. Para consolidar a carreira, são necessário outras etapas importantes para formação em piloto comercial, onde são abordados estudos de voos por instrumentos, aeronaves a reação, etc. Mas para para mim, que sonhava em voar desde muito pequeno, a habilitação em piloto privado é uma realização mais que suficiente, uma experiência fantástica. Reafirmo aqui a importância de não somente sonhar, mas principalmente realizar um sonho. 

Pintei um quadro do Aeroclube de Rio Preto em homenagem a esse momento e a todas pessoas que estiveram envolvidas nesse processo. Espero ainda preparar em breve uma bela exposição abordando os temas aeronáuticos de nossa cidade, afinal, importante é continuar sonhando sempre. Realizar um sonho nos torna seres humanos mais completos, confiantes de nossa capacidade. Nos torna mais seguros, mais felizes, enfim, mais humanos. 

Quem é: 

:: Aícro Barbosa da Cunha Júnior, 41 anos, é designer gráfico, formado em Desenho Industrial pela Unesp de Bauru. Atua na editoria de Artes do Diário da Região, tem artes plásticas como hobby e pratica corridas de rua e ciclismo 


As informações são"http://www.diarioweb.com.br/novoportal/Noticias/Cidades/183340,,Aicro+e+seu+sonho+de+ser+piloto+.aspx".Sempre é citado o link de referência. The information is "" Is always quoted the reference link.

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