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Risco de colisão com aves ameaça voos no Galeão

Os passageiros que usam o Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, devem sentir-se aliviados quando a aeronave finalmente levanta voo. O terminal, que passará por reformas, é um ponto de preocupação permanente para os eventos na cidade, com problemas desde as áreas de embarque até os acessos, com vias que passam por áreas inseguras e vias expressas congestionadas. O que os viajantes talvez não saibam é que, mesmo quando estão muitos metros acima do solo, os problemas do Galeão ameaçam a segurança dos voos a ponto de ser cogitada a suspensão da autorização de operação do terminal. O problema, de tão conhecido, incorporou-se à paisagem da vizinhança do aeroporto: aves de vários tamanhos e espécies que oferecem risco de colisão com os aviões. Só no ano passado foram registrados 67 choques de aves com aeronaves no Galeão – uma média de um acidente a cada seis dias, segundo relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica. 



Apesar de repetidamente cobradas pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pela Infraero, as providências estão, por assim dizer, ‘voando’ sem que se chegue a uma solução. O cenário de agora, que põe em risco turistas que chegam para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013), a Copa das Confederações e todo tipo de visitante, é um misto de perpetuação da inércia dos governantes e órgãos públicos com uma degradação acelerada do meio ambiente na Região metropolitana da capital.

Um calhamaço de algumas centenas de páginas dedicadas ao risco de colisão de aeronaves e pássaros tomou forma de inquérito civil no ano passado no MPF. 

Um relatório do Tribunal de Contas da União, que faz parte do inquérito, já apontava, em 2009, “risco elevado de acidente aeronáutico decorrente de colisões com pássaros” no Galeão. O documento não deixa dúvidas da gravidade do cenário. “Com o crescimento da aviação civil brasileira e a perspectiva da realização no país de eventos de porte internacional nos próximos anos torna-se urgente a ação governamental”. Em outro trecho do relatório, o TCU mostra preocupação com o risco de queda de uma aeronave devido a acidentes com pássaros no principal aeroporto do Rio de Janeiro. “O impacto da queda de uma aeronave de passageiros de grande porte nos próximos anos ou durante um desses eventos traria consequências extremamente negativas para o Brasil, com efeitos danosos na economia e na imagem do país no exterior”.

O documento inclui ainda o preocupante relato de um piloto, em março de 2009. “As operações no aeroporto Galeão, no Rio, estão se tornando cada dia mais perigosas devido ao perigo aviário. (...) Tivemos que fazer manobras a baixa altura, fora do previsto no perfil de decolagem para não colidir com um bando de urubus. (...) Atitudes urgentes têm que ser tomadas para que a possibilidade de um grave acidente seja afastada”. 

Em resumo, o risco está em 17 áreas apontadas como focos de atração de aves, como são chamados lixões, depósitos de material orgânico, matadouros e mercados de peixe, localizados no entorno do Galeão. E o resultado se comprova com um gráfico que detalha o histórico de colisões e incidentes com aves na área do aeroporto: entre ao longo de quatro anos, foram registrados 285 casos de colisão entre pássaros e aves no Galeão, que foi superado apenas pelos aeroportos de Brasília, com 298, e de Porto Alegre, com 288, segundo dados do Cenipa registrados entre janeiro de 2009 e dezembro de 2012.

A Infraero informou ter adotado uma série de medidas, como a contratação de uma empresa que disponibilizou três falcões robôs para dispersar as aves e a instalação de fios tensionados nos equipamentos de apoio à navegação aérea dispostos na pista, para evitar que sejam usados como poleiros. As ações ajudaram a reduzir o número de colisões de 93, registradas em 2009, para 67 no ano passado, mas a própria Infraero admite que tem ação limitada: a empresa não tem como solucionar problemas externos provocados pela ocupação desordenada da região, como a oferta de material orgânico que atrai as aves em busca de alimento.



Em grande parte, a solução para o problema passa pelas prefeituras de municípios do entorno da Baía de Guanabara. O Galeão fica na Ilha do Fundão, um pedaço de terra cercado de problemas ambientais por todos os lados - da poluição da Baía de Guanabara ao passivo acumulado no maior lixão a céu aberto da América Latina, o Lixão de Gramacho. Desde 2009, a Anac e a Infraero enviam ofícios para os municípios comunicando o problema e alertando para o risco de suspensão da operação de voos no Galeão. Nenhuma das prefeituras, no entanto, manifestou-se até hoje sobre seus lixões, mercados, matadouros e outras irregularidades.

A troca de mensagens sobre os riscos do Galeão já envolveu os gabinetes do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, do governador do Rio, Sérgio Cabral e da ex-secretária do Ambiente, Marilene Ramos. Em ofício enviado em abril de 2010, Jobim afirmou que “o risco com as aves agrava-se a cada ano”. Pediu ações do governo do estado e a intervenção junto ao município do Rio para possibilitar a criação “de imediato, de mecanismos formais e eficazes no controle do perigo” provocado pelas aves no Galeão.

Presidente do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), Marilene Ramos admite a dificuldade de coibir a existência de lixões clandestinos no entorno do lixão de Gramacho, fechado em junho de 2012. Segundo Marilene, galpões recebem caminhões de lixo, separam a parte reciclável e descartam o restante na Baía de Guanabara. Retido na região assoreada, o lixo atrai aves.

“Estamos combatendo os lixões clandestinos, mas é guerra de gato e rato. Nós fechamos, eles abrem. Outro problema que persiste é a deficiência na coleta de lixo por parte das prefeituras, o que faz com que um volume enorme de lixo acabe chegando à baía. Sem a melhora da coleta, não teremos solução sustentável para o problema”, diz a presidente do Inea.

Em abril de 2012, a Anac enviou ofícios aos prefeitos de municípios que fazem parte da Área de Segurança Aeroportuária. Em novembro de 2012, Paula Bicudo de Castro Magalhães, chefe de gabinete da agência, afirmou que “de acordo com a Lei 12.725, de 16 de outubro de 2012, o responsável pela aplicação das sanções administrativas a empreendimentos que atraiam animais no entorno dos aeródromos é o poder municipal”. Neste último ofício enviado ao MPF, Paula Bicudo afirma não ter recebido “manifestação dos municípios de Niterói, Belford Roxo, São Gonçalo, Magé, Duque de Caxias e Rio de Janeiro em resposta às notificações expedidas”.
“Desde meados de 2011, são realizadas missões para catalogar os focos de pássaros no entorno do Galeão. Os municípios do entorno do aeroporto foram notificados para que apliquem sanções administrativas aos empreendimentos que atraiam animais”, afirmou o procurador da república Claudio Gheventer.

Procurado, o prefeito Eduardo Paes citou o fechamento do aterro sanitário de Gramacho, em junho de 2012, como uma das medidas da prefeitura do Rio para reduzir o número de aves no Galeão.
Acidentes com aves são uma obsessão dos fãs de aviação, e correm a internet na forma de vídeos e discussões em fóruns sobre aviões. No Brasil, o caso mais recente foi ocorreu no último dia 8 de março. Um avião da TAM que decolou do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, precisou retornar à pista depois que uma das turbinas foi atingida por um pássaro. A aeronave perdeu velocidade após a decolagem, mas conseguiu pousar sem problemas. De acordo com a Infraero, 132 passageiros estavam a bordo.
O caso mundialmente conhecido de acidente aéreo causado por pássaros foi o do Airbus A320 da US Airways, em 2009. Com 155 passageiros a borto, o piloto Chesley Sullenberger, de 57 anos, tornou-se herói fazendo umpouso de emergência perfeito, sobre as águas geladas do Rio Hudson, em Nova York. Cinco minutos após a decolagem, ouviu-se uma explosão. O comandante Sullenberger percebeu que não seria possível retornar ao aeroporto e, com segundos para decidir e agir, optou por pousar no Rio – a única área próxima livre de construções e pessoas.

O aeroporto de La Guardia, em Nova York, é circundado pela Baía Flushing, onde pássaros voam a alturas variadas. À velocidade de decolagem, o impacto de um ganso corresponde à força produzida por um peso de 450 quilos sendo jogado de uma casa térrea. Quando uma das pás da turbina entorta, as demais são deformadas em efeito dominó.

De acordo com o major aviador Henrique Rubens, da Cenipa, 95% dos choques entre aves e aeronaves ocorrem a altura de até 4000 pés, ou seja, durante pouso ou decolagem. O problema é tão sério que nos Estados Unidos em todo acidente aéreo é realizado teste de DNA para verificar se há presença de sangue de aves no motor. No Brasil, há projetos semelhantes em andamento.

“Uma ave pode derrubar um avião”, afirma o major. Ele explica que, quando uma ave atinge uma turbina – um urubu ou várias andorinhas, por exemplo -, o choque provoca um efeito cascata que acaba com a danificação do motor. Por isso, o risco é maior para os monomotores. Helicópteros esquilos também são vulneráveis porque o para-brisa da aeronave não é preparado para suportar o impacto com uma ave maior. “O impacto destrói o para-brisa e atinge o piloto”, alerta o major.


As informações são"Veja por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro".Sempre é citado o link de referência. O conteúdo é de Responsabilidade:Thiago Oliveira 

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